segunda-feira, 9 de abril de 2012

O Filé que alimentou algumas gerações - Mas este é um filé diferente


São milhares de voltas e nós coloridos. Flores, ramos, triângulos, desenhos de todos os tipos! Só depende da escolha do cliente e da criatividade da artesã. As poucas que estavam ali em Maceió, na praia do jacaré, garantiram que a idéia do desenho surge na hora. Geralmente começam a fazer o ponto mais comum e a partir daí os desenhos vão sendo criados. Elas comentaram ainda o valor das peças que são, relativamente, alto. Alto porque a mão de obra é grande e o tempo para que cada peça fique pronta é longo, mas longo de verdade. Esse emaranhado de cores tem um único nome: o filé.
Pra quem nunca ouviu falar desse artesanato, o filé é uma arte costurada com um tipo específico de linha que formam belíssimas peças como toalhas e caminhos de mesa, saídas de banho, vestidos, blusas e roupas em geral.
Foi o filé que garantiu o sustento e a sobrevivência de muitas famílias ali na região de Maceió. Dentre essas famílias, a história mais curiosa é a da Alagoana Edneusa Maria, 62. Ela aprendeu com sua mãe e ensinou seus sete filhos. Orgulhosa do seu talento, ela diz que o artesão não pode saber fazer um único trabalho e sim um pouquinho de cada coisa. Escolheu então o filé para se aperfeiçoar e hoje é uma artesã de mão cheia e com muita história pra contar.
Entendemos que, a partir das sete da noite, bordar o filé em seus teares de madeira é prejudicial às vistas, principalmente se a linha for colorida. Mas, segundo dona Edneusa, quando se tem a necessidade de terminar determinada peça, o jeito mesmo é deixar que as vistas se cansem e concluir o bordado.
Para ela, costurar o filé não tem sexo nem idade. Aprendeu cedo e logo ensinou aos filhos ainda pequenos. O engraçado é que quem teve maior facilidade com o bordado foi seu filho mais novo. Segundo ela, ele já ajudou muito, mas não continuou costurando como as mulheres. “Na minha casa todo mundo aprendeu a fazer filé, das minhas filhas ao filho. Quando meu filho era solteiro ele me ajudava demais, me ajudava muito!”
Uma promessa:
Para aprender o famoso filé, dona Edneusa fez uma promessa a Mãe das Dores. Se conseguisse aprender, faria uma toalha branca de dois metros e meio para colocar no altar da santa, em Juazeiro do Norte. Assim que aprendeu os principais pontos cumpriu sua promessa. “Meu terceiro trabalho foi diretamente para Juazeiro, para botar no altar de Mãe das Dores, que eu agradeço a minha mãe.”

Foto: Divulgação